24 Hours du Le Mans 2006






A 74ª edição das 24 Horas de Le Mans abriu um novo capitulo da história do automobilismo mundial quando ao fim de 380 voltas e 5187 km percorridos o Audi R10 da Audi Sport Team Joest, conduzido pelos alemães Frank Biela e Marco Werner e pelo italiano Emanuele Pirro, ganhava uma das mais importantes corridas de automóveis do Mundo com um motor diesel.

A história começa a 13 de Dezembro de 2005 em Paris com a apresentação do novo protótipo da Audi para as 24 horas de Le Mans. Após vencer 5 das últimas 5 edições ( A Audi venceu as corridas de 2000 a 2002, 2004 e 2005, perdendo a corrida de 2003 para o lindíssimo Bentley Speed 8, embora a vitória tenha ficado em “casa” pois a Bentley, tal como a Audi, faz parte do grupo Volkswagen e o Speed 8 utilizava parte da tecnologia do R8 ), a Audi decide apostar num novo caminho e sendo pioneira na tecnologia TDi, aposta nesta motorização para voltar a vencer a mítica prova Francesa. O novo Audi participa pela primeira vez nas 12 Horas de Sebring, nos EUA, perante um misto de “gozo” e desconfiança por parte dos americanos, tradicionalmente adversos ao Diesel.

As alcunhas não se fizeram esperar e “oil burner” e “smokey” eram apenas duas das mais simpáticas entre outras, no entanto, os americanos rapidamente engoliram em seco quando viram o R10 de Rinaldo Capelo (Ita), Allan McNish (GB) e Tom Kristensen (Din) vencerem categoricamente com a melhor volta da corrida, após de terem dominado também as qualificações. Um senão no entanto acabou por ficar no ar pois o Audi nº1 de Frank Biela (Ale), Marco Werner (Ale) e Emanuele Pirro (Ita) acabaria por abandonar com um terço da prova realizada com problemas de sobreaquecimento. A fiabilidade da Audi estava posta em causa, mas para a história ficava a primeira vitória de um carro a diesel numa grande competição automobilística.
Sem um grande construtor para lhe fazer frente a Audi chega (de novo) como a grande favorita às 24 Horas de Le Mans de 2006 tendo apenas como oposição a pequena escuderia francesa Pescarolo, do mítico piloto Henri Pescarolo [2], com os Pescarolo C60h Judd.
Nos testes conjuntos duas semanas antes da corrida, começa a verdadeira corrida do gato e do rato entre ambas as equipas. Na sessão matinal dominou a Audi por um segundo; à tarde, a Pescarolo deixa o melhor Audi a dois.
Semana e meia depois, durante as qualificações, a Pescarolo volta a dominar, e na sessão de quarta-feira, faz a pole provisória num dia marcado pela chuva, deixando o melhor Audi na 3ª posição a uns impressionantes 4 segundos. Mas seria “sol de pouca dura” (ou “chuva de pouca dura”…) e na quinta-feira, na última sessão de qualificação e de novo com bom tempo em La Sarthe, a Audi acaba por conquistar os dois primeiros lugares (pole do Audi nº7 de McNish/Capello/Kristensen com 3.30.466) e os “Pesca” ficam com a 3ª (nº17 dos franceses Sébastien Loeb, Eric Hélary e Franck Montagny) e 4ª posição (nº16 dos franceses Emmanuel Collard, Erik Comas e Nicolas Minassian) a 2 segundos. No campo dos “best of the rest” a Courage Competition [3], que também mostrou muitas dificuldades em lidar com a chuva de quarta-feira, acabou por conquistar a 5ª posição, a 2 segundos do melhor Pescarolo, com o Courage LC70 Mugen nº13 (!) dos japoneses Shinji Nakano e Haruki Kurosawa e do francês Jean-Marc Gounon.
No Sábado, ainda a corrida não tinha começado e já os Audi R10 começavam a testar os limites dos nervos dos seus responsáveis. Durante ao warm-up, a transmissão do R10 nº7 avaria depois de ter realizado o melhor tempo. Minutos antes do inicio da corrida é a vez do Audi nº8 ser recolhido à box durante a apresentação dos pilotos, com problemas de última hora no diferencial, mas volta à pista a tempo de largar da sua posição.


Ás 17 horas é dada a partida para a 74ª edição das 24 Horas de Le Mans. Rapidamente os Audi tomam a dianteira da corrida, com os “Pesca” logo a seguir, enquanto que o Dome da Racing for Holland de Jan Lammers(Hol)/Alex Yoong(Mal)/Stefan Johansson(Sue) e o Zytek da Zytek Engineering com os dinamarqueses John Nielsen, Casper Elgaard e Philip Andersen, passam pelo Courage nº13. Ao fim de hora e meia de prova a classificação pouco mexe para além do normal decorrente das idas às boxes para os reabastecimentos. Com quase 3 horas e meia de prova realizada, pelas 20:24, retorna o calvário da Audi. O R10 nº7, que liderava a prova desde o inicio, entra das boxes para mudar os injectores e perde 6 voltas, parecendo comprometendo seriamente a corrida.
Os Pescarolo, que entretanto já rodavam a uma volta dos dois Audi, sobem para 2º e 3º lugar (nº17 e 18), dando algumas razões para Henri Pescarolo sorrir e sonhar com uma hecatombe Audi. O Dome da Racing for Holland é agora 4º e o Courage LC70 Judd da Swiss Spirit de Harold Primat(Sui)/Marcel Fässler(Sui)/Philipp Peter(Aut) é 5º.

Os problemas do Audi nº7 fazem-no cair para a 16ª posição, no entanto McNish, Capello e Kristensen não abandonam a luta e tentam chegar o mais rapidamente possível ás posições cimeiras, com sucessivas voltas mais rápidas, e duas horas depois já se encontram no 7º lugar. Entretanto é a vez da Pescarolo também sofrer problemas. Às 21:44, o “Pesca” nº16 abranda subitamente no “S” do Karting, e acaba mesmo por parar. Minassian, que o conduzia nesse turno, consegue voltar a pôr o “Pesca” em andamento até às boxes e é então detectado um problema eléctrico que é rapidamente resolvido, mas o Pescarolo não volta á pista a tempo de evitar perder o 3º lugar para o Dome da Racing for Holand, e cai para 4º.No entanto, passados 45 minutos, o mesmo problema volta a afectar o nº16 e este retorna ás boxes para uma paragem mais longa de 15 minutos.

A corrida ficou comprometida. Uma hora depois volta a entrar na box e o capot é retirado para uma vistoria rápida e tudo parece bem, sai de novo para a pista e dá duas voltas lentas retornando à box. Os mecânicos da Pescarolo levantam o capot do motor sem perceber muito bem o que se passa. 1:15 minutos depois e vários componentes eléctricos do motor substituídos e o “Pesca” nº16 volta à pista no 38º lugar. Definitivamente acabou a corrida para Collard/Comas/Minassian, o Audi nº7 já é 3º e é quase uma da manhã.


Henri Pescarolo está inconsolável, apesar do nº17 ainda ocupar a 2ª posição, e é com cara de poucos amigos que afasta os inúmeros fotógrafos que entretanto o cercam junto ao muro das boxes, mas o aperto ainda não acabou. À 1:25 mais um calafrio na box da Pescarolo, o “Pesca” nº17 despista-se em Mulsanne e destrói parte da carenagem, mas sem danos mais problemáticos retoma a pista e dirige-se rapidamente à box para substituir as partes danificadas. Com duas voltas de avanço sobre o Audi nº7, e com pouco tempo perdido na box, o nº17 volta à pista com o 2º lugar seguro.


A corrida começa a acalmar na luta Audi/Pescarolo e mesmo com ainda mais duas idas às boxes do Audi nº7, uma delas para substituir o fundo plano do R10 que faz o Audi voltar a perder o 3º lugar para o Dome, os lugares parecem praticamente decididos, até que o Dome, às 5:45, tem uma saída de pista na chicane Michelin que acaba com as aspirações da equipa holandesa em fazer um brilharete e o Audi nº7 volta de novo ao 3º lugar.

A corrida mantém-se calma na LMP1 até ao fim e a Audi vence as 24 Horas de Le Mans com o R10 nº8 de Biela/Pirro/Werner tendo o nº7 de Capello/Kristensen/McNish ficado com um sofrido 3º lugar. Henri Pescarolo, que rapidamente começou a lançar acusações à ACO por o regulamento (supostamente) favorecer os carros com motorização a Diesel, teve de se contentar com esta meia vitória que foi colocar a sua tripla de pilotos Hélary/Montagny/Loeb entre os dois Audi, ficando com o 2º lugar. E assim se fez história.


Apesar do resultado final ser novamente a Corvette vencedora em Le Mans, dessa vez ela foi a quarta colocada na geral e ainda foi uma prova muito disputada na GT1, entre as Corvettes e DBR9s de fábrica (e alguns privados, como o de Nelsinho Piquet), além do Saleen de Christian Fittipaldi, que chegou a andar em terceiro.

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A equipe de fábrica da Aston Martin, operada pela Prodrive de David Richards e em sua segunda participação em Le Mans, teve os carros mais rápidos durante a maior parte da prova, mas sua última esperança quebrou a menos de cinco horas do final. No começo da prova, Darren Turner já havia danificado a parte inferior de seu número 007 (que largou na pole) ao atacar algumas zebras, obrigando-o a parar e ceder a liderança para a Corvette # 64 de Gavin, Magnussen e Beretta, e tirando-o da briga na ponta.

O DBR9 # 009 de Lamy, Sarrazin e Ortelli, agora em segundo, passou a perseguir a Corvette, finalmente passando-a com pouco mais de sete horas de prova, depois de uma bela batalha. Infelizmente para eles, as duas da manhã Ortelli foi para os boxes e teve que trocar a embreagem de seu carro, perdendo novamente a liderança para o Corvette #64 – mais lento, mas sem problemas: liderou até a vitória.

O Aston Martin # 007 ainda recuperou o bastante para chegar em segundo, e o terceiro lugar ficou com a Corvette de equipe privada francesa de Luc Alphand, Jerome Policano e Patrice Goueslard, que teve uma corrida impecável, sem absolutamente nenhum problema. Nelsinho Piquet foi quarto em sua estréia na prova, com o Aston Martin privado da Russian Age/Modena chegando a liderar a classe, e disse que gostou muito da experiencia. Eles foram seguidos pelo DBR9 de fábrica #009, que recuperou-se para chegar em quinto. Christian Fittipaldi enfrentou problemas com uma manga dianteira quebrada que custou à equipe cerca de cinquenta minutos no box, e eles perderam ainda mais alguns minutos com problemas de freio e outros com um parachoque traseiro quebrado logo no começo da prova, e sobreviveram para terminar em sexto, mais rápidos todo o tempo que carros como por exemplo o Corvette de Alphand que foi terceiro - mas tendo que lidar com muito mais problemas durante a prova. Mesmo assim, o brasileiro disse ter gostado demais da corrida, e pode voltar.
O trio da #64 venceu na classe pela 4ª vez com a marca americana, e essa foi a terceira consecutiva. A marca Corvette agora venceu a prova sete vezes consecutivas. A outra Corvette de fábrica, a #63 de Ron Fellows, John O’Connel e Max Papis, viu suas esperanças para um final melhor irem embora já nas primeiras horas de prova, quando O’Connel rodou nas Porsche Curves e atingiu o guard-rail, danificando a traseira do carro e requerindo uma parada demorada nos boxes. Eles ainda teriam que trocar a embreagem do carro antes do final da prova, terminando em sétimo.

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